terça-feira, 17 de março de 2009

quando o tempo não existe.

Sinto o mundo fugir-me dos pés. Já não calculo esse passo final entre o racional e o abismo da loucura. Desfaço-me aos poucos. Por cá deixo primeiro os sonhos, que deles nada mais restará senão a memória de um último sussurro que ficou por decifrar. Desejos… são sempre os desejos que se prendem aos nós na garganta, qual gosto amargo esse que chama o arrependimento e desdenha da timidez.
As recordações, deixo-as também. Despeço-me de cada uma com uma última imagem e, num segundo, cabem mais que todas as estrelas. Como se num momento nos sugassem tudo o que esperámos levar para outras dimensões. Cuidarei de deixar que fiquem também palavras para os que não partem comigo, em jeito de agradecimento pelas horas de entrega…

Respiro fundo…
O som do mar.

Não falta muito. As nuvens parecem formar uma bolha de algodão para que não seja este o momento final. Por instantes, consigo sorrir. O mundo afinal consegue ser irónico.
O som do mar dava-me a certeza do que estava por debaixo de todo aquele branco. Vinham-me à cabeça as teorias do nada e o do vazio e sentia-me experimentar já um pouco desse outro espaço de tempo.

Volto.
O som do mar. Mais forte. Cada vez que a espuma embatia contra as rochas lá em baixo, soava a algo desejado, uma última exigência. Puxava de mais por mim, desconcertava-me os pensamentos que se atropelavam nas esquinas do irreal. A força da água parecia entrar em mim e tentar roubar a última coisa que restava.



Não, as loucuras não deixo aqui, que sempre foram elas que me alimentaram a esperança.

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