segunda-feira, 12 de setembro de 2011

s/ título.

(fotografia de Daniela Morgado)


é como respirar fundo... abrir os olhos e sentir-te, de novo, aqui.

terça-feira, 19 de abril de 2011

You look like rain.

Segurava a sua caneta com firmeza. Como se de coisa séria se tratasse. Escrevia calmamente, como morrendo em cada palavra para dela sorver o mais pequeno sentido. Deslizava com o braço, calmamente sobre a secretária e esquecia-se do cigarro a arder no cinzeiro. Esquecia-se de tudo por instantes e balançava a caneta ao som dos pensamentos. Parava para acalmar a sofreguidão das palavras. Escrevia sobre um futuro, talvez distante. Mas à medida que os sonhos lhe enchiam as mãos a tinta parecia perder o vigor, como se com vida própria, os entendesse como perigosas possibilidades. No entanto forçou o momento, olhou o cigarro já apagado e numa analogia rebuscada, julgou-se ele mesmo o cigarro, esquecido a arder. Fez-se dono das palavras e atirou-as brutamente para cima da folha. Na sua cabeça sabia que o tema só poderia ser um: ela. Esse ser perfeito que o levara à loucura, o seu desejo permanente e proibido. Poderiam ter tido uma vida juntos, ele e ela. Poderiam mas não tiveram porque apesar de toda a paixão, não quis o tempo que eles alguma vez se possuíssem. Ele escreve-a em mentiras que ousa contar-se. Ela é apenas uma personagem na cabeça dele. Um amor proibido, daqueles que ficam para dar um aperto ao coração.


Daniela Morgado

domingo, 6 de fevereiro de 2011

entre isto e aquilo.

sinto o corpo cair. existe uma quebra ainda longa entre o tempo e o movimento já executado. tudo parece acontecer devagar, mesmo as palavras. as vozes arrastam-se pelo espaço... de repente estou dentro de mim, no meio de escuridão e poemas soltos, de saudades e mágoas de outrem, de despedidas pensadas e sonhos adiados.
quero sair, mas a vontade pesa e arrasta-me para dentro.

onde estás?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

custa fechar os olhos e ter aquela imagem apenas na minha cabeça.
tão intocável. tão distante. tão impossível.

no entanto, durmo com ela.

sábado, 15 de janeiro de 2011

presença.

fotografia de Daniela Morgado

sábado, 8 de janeiro de 2011

leva-me à exaustão pensar na distância de um pensamento a um gesto. na cobardia que há em esconder no correcto tudo aquilo que nos pulsa no corpo. e que distância tão pequena...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

sabes a chuva.

A noite sabe a chuva. Como palavras de despedida que se colam ao tempo.
Um sabor estranho que se entranha no tédio dos dias e nos deixa na penumbra de nada sentir.
Na rua os cheiros misturam-se como corpos famintos entrelaçados; mas não os sinto. A imagem que tenho perante mim parece silenciosa e vazia. Estática na verdade.
Poderia dizer, agora, qualquer coisa que iria apenas ecoar nas memórias da minha existência. Um gesto egoísta que me transforma numa alma estranha...desconhecida, perdão.
Poderia chamar-te agora... mas a noite continuaria a saber a chuva... fria e distante como lágrimas que ficam nas palavras por dizer.
Tu sabes-me a chuva.