terça-feira, 19 de abril de 2011

You look like rain.

Segurava a sua caneta com firmeza. Como se de coisa séria se tratasse. Escrevia calmamente, como morrendo em cada palavra para dela sorver o mais pequeno sentido. Deslizava com o braço, calmamente sobre a secretária e esquecia-se do cigarro a arder no cinzeiro. Esquecia-se de tudo por instantes e balançava a caneta ao som dos pensamentos. Parava para acalmar a sofreguidão das palavras. Escrevia sobre um futuro, talvez distante. Mas à medida que os sonhos lhe enchiam as mãos a tinta parecia perder o vigor, como se com vida própria, os entendesse como perigosas possibilidades. No entanto forçou o momento, olhou o cigarro já apagado e numa analogia rebuscada, julgou-se ele mesmo o cigarro, esquecido a arder. Fez-se dono das palavras e atirou-as brutamente para cima da folha. Na sua cabeça sabia que o tema só poderia ser um: ela. Esse ser perfeito que o levara à loucura, o seu desejo permanente e proibido. Poderiam ter tido uma vida juntos, ele e ela. Poderiam mas não tiveram porque apesar de toda a paixão, não quis o tempo que eles alguma vez se possuíssem. Ele escreve-a em mentiras que ousa contar-se. Ela é apenas uma personagem na cabeça dele. Um amor proibido, daqueles que ficam para dar um aperto ao coração.


Daniela Morgado

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